Onde as Histórias Vivem

Onde as Histórias Vivem
Onde as Histórias Vivem

Por Ana Marquetti - Arquiteta e especificadora Arauco
@anarquiteta

 

No dia em que o Alexandre Chiquiloff esteve no Espaço Arauco, nos colocou a pensar sobre como, em uma era em que as geladeiras têm ajuste de temperatura e conservação de alimentos controlados por inteligência artificial, é difícil imaginar que há apenas um século fazia-se uso de um pequeno móvel, similar a uma mesa de cabeceira, para armazenar e conservar alimentos perecíveis, como a gordura animal, por exemplo.

 

Atualmente, todas as nossas necessidades estão ao alcance de um toque na tela. Trocamos vários itens como documentos, cartões de crédito, mapas, computadores e máquinas de fotografar por um único aparelho celular. Mas será que isso veio para apenas facilitar nosso dia a dia ou trouxe consigo uma série de medos e desconfianças? A centralização de tantas funções gera uma dependência que até já tem nome: “nomofobia” – que é o medo de ficar sem o celular.

 

As relações interpessoais também passaram por diversas mudanças: desde as próprias redes sociais, que apresentam fragmentos pré-selecionados das nossas rotinas, até aplicativos de relacionamento, em que basta um arrastar de dedos para demonstrar interesse ou não por uma imagem que, supostamente, deve retratar tudo que está por trás daquele por quem se está interessado(a).

 

Em um mundo que gera imagens através de inteligência artificial, não se sabe mais ao certo o que é verdade e o que é produto dessa tecnologia desenfreada, ainda mais quando há quem use dela para aplicar golpes ou espalhar notícias falsas. A constante permanência no digital, em meio a uma chuva de informações e novidades em tempo real traz consigo o anseio pelo desconectar.

 

Ao analisarmos todo esse contexto, temos como resposta a idealização dos lares como “porto seguro” ou até como um local de desaceleração e descanso da mente. Nos conectamos afetivamente a objetos que contam histórias e geram emoções as quais irão orientam escolhas e decisões. Desde um souvenir que materializa a experiência de uma viagem, até o pequeno e raro móvel de 1920: a geladeira que o Ale herdou da sua trisavó hoje já não guarda alimentos, mas traz beleza, significado e aconchego para a sua casa.

 

O “morar” hoje diz muito mais sobre estar em um lugar acolhedor e de autorreconhecimento do que em um espaço de uma fotografia de revista. É preciso que despertemos diferentes sensações que nos conectem de volta com o mundo real para trazer calma para um tempo em que para tudo se tem pressa.